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2020-01-14

Biomassa florestal como energia: ganha o produtor florestal e agrícola

O INESC TEC está envolvido em dois projetos ligados à floresta – GOTECFOR e BIOTECFOR. Ambos visam valorizar a biomassa florestal e potenciar a atividade florestal por um lado e, agrícola, por outro.

A floresta tem um peso económico considerável na economia nacional. O Valor Acrescentado Bruto em 2017, segundo o Observatório para as Fileiras Florestais foi quase de 167 milhões de euros. O INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência e os seus parceiros acreditam que muito mais se pode fazer para valorizar este bem nacional. Assim, nascem os projetos GOTECFOR – Tecnologia para a mobilização e aproveitamento de Biomassa Florestal na agroindústria e o BIOTECFOR – Bionegócios e Tecnologia para a valorização eficiente dos recursos florestais endógenos no Norte de Portugal e Galiza para promover a valorização dos recursos florestais considerando duas abordagens complementares e com diferentes escalas de implementação temporais.

Os projetos são complementares, tendo o GOTECFOR como motivação dois problemas fundamentais existentes no sector agroflorestal: baixo valor económico dos resíduos florestais e elevados custos no aquecimento de estufas, quando utilizado gás e/ou eletricidade. Neste sentido, pretende-se avaliar a potencialidade de utilizar resíduos florestais no aquecimento das estufas, reduzindo assim os custos neste processo.
Biomassa como fonte de energia

Filipe Neves Santos, coordenador da investigação no INESC TEC, explica que estão numa fase de “encontrar, adaptar e parametrizar a utilização de uma ferramenta informática para otimização da cadeia de abastecimento da Biomassa Floresta [BF] às culturas protegidas. Em paralelo, temos vindo a analisar o parque de máquinas e alfaias florestais, e temos identificado inovações nestas máquinas no sentido de as tornar mais eficientes no contexto da utilização de resíduos florestais no aquecimento de estufas”.

Atualmente, o GOTECFOR tem um piloto a decorrer nas estufas de flores (FlorAlves), em Vila do Conde. Aqui, o aquecimento das estufas tem sido feito com estilha proveniente de resíduos florestais. Os investigadores têm “avaliado o impacto económico na utilização biomassa para aquecimento da estufa”. E já foram retiradas algumas conclusões, tais como que “as alfaias, máquinas, caldeiras e gestão das cadeias de abastecimento que necessitam de ser adaptadas, nomeadamente: caldeiras que necessitam de ser ajustadas no sentido de serem mais tolerantes a estilha com algum conteúdo de terroso e pedras; estilhadoras com capacidade aumentada na filtragem do calibre da estilha e de materiais não lenhosos; melhor monitorização de teores de humidade das pilhas de estilha; e sistemas de apoio à gestão das cadeias de abastecimento da BF às culturas protegidas”.

A biomassa florestal utilizada como fonte de energia é assim uma oportunidade quer para produtores florestais, quer para os profissionais que recorram a este produto florestal. A utilização direta de estilha/biomassa no aquecimento de estufas reduz os custos associados ao aquecimento das estufas e aumenta a produtividade das culturas, traduzindo-se para o agricultor numa maior rentabilidade da exploração e aumento da capacidade de produção/exportação de produtos agrícolas durante todo o ano. As mais-valias não se ficam por aqui, pois a utilização de estilha/biomassa no aquecimento de estufas permite também aumentar o número de locais com capacidade para o consumo da biomassa e reduzir os custos de transporte da biomassa e ao mesmo tempo eliminar as perdas nos ciclos de transformação biomassa (energia térmica – energia elétrica – energia térmica) – que podem chegar aos 50%. Esta redução de custos de transporte e redução nas perdas de transformação pode viabilizar a utilização de outros subprodutos florestais e pode tornar autossustentável a manutenção/limpeza da floresta.

“Ao associarmos à cadeia de valor uma ferramenta que analisa a procura (agricultor com estufas) e oferta (proprietário florestal/prestador de serviços), que otimiza os custos de transporte e aumenta os ganhos do lado da procura e oferta, estamos a aumentar a inteligência e eficiência de toda a cadeia e a aumentar a rentabilidade para todos envolvidos”, destaca Filipe Neves Santos, sublinhando que “pela via do aumento da rentabilidade do agricultor, redução dos custos de transporte e redução nas perdas de transformação é possível viabilizar esta cadeia de valor que promove uma economia circular envolvendo floresta e agricultura”.